segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais outra recordação.Como quando se ia ao moinho se traziam umas quantas sacas de farinha,a mesma tinha que ser peneirada,para confeccionar o pão semanalmente.Havia uma velhota ,a Rafaelinha,que todos os dias da semana ia a casa dos meninos,como ela tratava o meu avõ e os outros irmãos por serem primos da madrinha dela,com quem foi criada e lhe deixou uma casinha para morar,depois dela falecer.Ora a Rafaelinha tinha casa mas não que comer e assim em troca de peneirar a farinha,comia e levava para casa comida para uns dias.Quando se acabava ia a casa de outro menino e em troca de qualquer serviço,ia abastecida por uns dias. Era uma velhota muito querida,educada e lembro-me duma cantiga que ela me cantava:Carinha linda dar-te um beijo era tão bom.....nesses lábios pintadinhos  do mais vermelho batom!!...Eu era muito menina mas lembro-me.........Lembro-me também das comadres da minha avó,que passavam tardes inteiras a descascar as amendoas á mão.A paga era a mesma,comida,porque escasseava na altura.Os meus avós tinham muitos afilhados e as mães apareciam a ajudar os compadres,pela cimidinha claro! Acasa estava sempre aberta e mesmo os pobres que andavam de terra em terra,sabiam que tinham onde pernoitar quando iam para aqueles lados.Havia sempre uma ceia e uma manta para se agasalharem e a dormida era 5 estrelas, nos palheiros em cima da palha fofinha com umas esteiras de empreita.Apenas os meus avós e o regedor da freguesia davam guarida aos pobres na redondeza,por isso era raro o dia que não aparecia alguém.Lembro com muita ternura tudo isto que vivi na minha infãncia.Depois os tempos foram melhorando e hoje ninguém sabe do que estou falando! Ainda bem. Até breve.

O xarém.



Com a minha estadia em Lisboa,para a revisão,e o St António e as marchas de Quarteira,os dias foram passando e o blog ficou para trás.

No entanto o que é prometido é devido,e aqui estou eu para vos falar da epopeia dos bagos de milho até chegar ao saboroso xarém. Isto tudo como se processava no meu tempo de menina..
A terra era lavrada,gradeada e depois armavam-se os canteiros para a cultura do milho. Como tinha que ser regado a armação das leiras tinha o seu preceito. Abria-se uma regueira ao meio e dum lado eoutro faziam-se  as leiras ou eiras onde com um sacho se abriam os golpes(buracos) e deitavam-se 3 ou4 bagos de milho dentro que depois eram tapados com o mesmo sacho. Depois de regados os pés de milho nasciam naturalmente.
Depois vinha a  monda a sacha, até criar a massaroca,que era  o que se pretendia..Entretando ainda havia o corte das folhas e  da bandeira que era para as massarocas se fazerem maiores.Todas as folhas eram atadas em molhos e serviam para o gado comer no inverno.Depois de maduras as massarocas eram apanhadas e amontuadas ,num terreiro ou eira onde se procedia ás famosas desfolhadas. Geralmente eram feitas nas noites de verão e todos os familiares ,vizinhos e amigos se juntavam na noite combinada por cada proprietário do milho.
Então era assim: Sentados á volta do monte de milho,cada um pegava numa massaroca e com um pauzinho redondo e bicudo descamisava a espiga de milho.Isto durante horas!........Quando alguém tinha a sorte de encontrar uma espiga de milho vermelha era o delírio,corriam a roda toda a beijar as raparigas casadoiras e se era rapaz então,devem imaginar o reboliço.....
Todas as pessoas se ajudavam  nestas lides do campo. Para a festa ser completa os donos da casa,tinham sempre merendas para oferecer durante o tempo que durava a escarapela ou desfolhada.
Era uma vida sã e havia tempo para tudo embora o trabalho fosse muito e pesado. Os meus familiares tinham sempre pessoal a trabalhar á jorna ou seja ao dia,mais ou menos conforme as necessidades.
No entanto o meu avõ ,que era um querido,gostava de passar as tardes de calor a esbagulhar o milho, encarrapitado em cima do monte de massarocas, que entretanto tinham sido trazidas para um armazém. Lembro-me ,como se fosse hoje. sentava-se no alto de  pernas abertas e com uma laje entre elas ia de uma a uma tirando os bagos de milho com uma foice velha. Tique tique e o milho ia saindo do sabugo. Trabalho muito lento e demorado;quando anos mais tarde apareceu uma máquina para esse serviço foi uma alegria.
Era ver o milho caía por um lado e o sabugo por outro. Omesmo aconteceu com as debulhadoras que em pouco tempo separavam trigo da palha.,
Voltemos ao milho. Depois de ensacado e guardado em casa servia para alimento das galinhas ,dos porcos e também dos donos do mesmo. Quando se ia ao moinho levar o trigo também se levava milho para moer e da sua farinha se fazerem as boas broas e o famoso xaré ,hoje tão na moda.
Tempos houve em que os carapaus alimados e as papas de milho eram a alimentação dos pobres. HOJE são pratos famosos e muito apreciados por gente de BEM...
É VERDade ,já agora também lhes digo que a melhor maneira de se fazerem as papas é com conquilhas e quadradinhos de toucinho frito. HOJE é prato muito apreciado or muita gente BEM!!!!!!!!!!!!!!!
beijos e até breve.